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Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo: Falta de formação da sociedade e subdiagnóstico são empecilhos para inclusão de autistas

Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo: Falta de formação da sociedade e subdiagnóstico são empecilhos para inclusão de autistas

Data: 2 de abril de 2023

A data do 2 de abril tem como objetivo difundir informações acerca do Transtorno do Espectro Autista e reduzir o preconceito contra pessoas com a condição

Neste domingo, 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, criado pela ONU com o objetivo de pensar práticas de inclusão e respeito à neurodiversidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1% da população mundial seja autista e o número de diagnósticos aumenta a cada ano, no entanto considera-se que uma parte considerável da população ainda sofra devido ao subdiagnóstico da condição, o que impede o acesso a direitos, adaptações e compreensão social. 

A condição foi estudada por cientistas no início do século XX. Em 1980, o autismo foi incluído na classe dos transtornos invasivos de desenvolvimento da terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM –3), documento elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) para padronizar os critérios diagnósticos das desordens que afetam a mente e as emoções. A expressão neurodiversidade é ainda mais recente, criado em 1998 pela socióloga e autista Judy Singer para se referir às diferenças neurológicas humanas. 

No Ifes, professoras, psicólogas e mães que convivem com o autismo relatam os desafios de formação da sociedade para a proteção e valorização da neurodiversidade. 

A diretora do segmento de coordenação de pessoal do Sinasefe Ifes Aurélia Hubner é uma mãe atípica, tem dois filhos autistas, seu ex-marido também é autista, além do pai e da avó. “O autismo para mim é algo natural da vida, mas o acesso ao diagnóstico não foi gratuito. Um dos meus filhos passou por bullying na escola onde estudava, até mesmo de professor. Depois do diagnóstico as coisas ficam mais claras. Meu filho é autista de suporte 2 e minha filha é suporte 1. Mas é muito diferente de um nível de suporte para o outro e mesmo entre pessoas com o mesmo nível de suporte. ”, considera Aurélia. 

A diretora de Administração e Finanças Denise Lemos também é mãe atípica de um menino de treze anos. Ela acredita que os estímulos positivos para desenvolvimento das habilidades de interação social são muito importantes. “Da perspectiva da mãe atípica, ficamos cercadas pelos medos, porque a sociedade não está preparada para a diversidade. Às vezes a escola é muito maçante e as atividades que seriam de interesse muitas vezes nem acontecem. Por exemplo na Educação Física o padrão são atividades coletivas e o meu filho não gosta, ele prefere atividades individuais e essas não são priorizadas”, reflete Denise.

A doutora em geofísica espacial Patrícia Ilus recebeu o diagnóstico de autismo aos 41 anos, por isso não teve acesso a adaptações na fase escolar. Com o neuropsicólogo e pesquisador Mayck Hartwick, ela fundou a plataforma “Adultos no Espectro”, que oferece serviços de saúde mental para autistas adultos, familiares e profissionais da área. Atualmente Ilus está estudando música na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e teve pela primeira vez a experiência de contar com adequações pra suas demandas, ainda que as dificuldades tão tenham sanado por completo. 

“O fato de termos o diagnóstico só quando adultos faz com que nossas dificuldades sejam desprezadas pelas pessoas, não termos acesso a suporte adequado, nem a terapias. Na escola, além do bullying que é presente em todas as pessoas com quem conversei, temos o desprezo dos professores que não reconhecem nossos focos de interesse, nossa dificuldade com a linguagem e acham que a falta de interação é por timidez, quando notam”, observa Ilus.

Existem 114 estudantes com diagnóstico de autismo nos campi do Ifes atualmente, acompanhados pelos Núcleos de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (Napnes), que são responsáveis por articular a oferta do Atendimento Educacional Especializado a esses estudantes, assim como o apoio de outros profissionais necessários para o suporte ao desenvolvimento educacional.

A Diretoria de Assuntos Estudantis do Ifes – DAE/Proen afirma que a subnotificação não é algo tão significativo na instituição, “considerando que quaisquer casos em que haja suspeita podem ser encaminhados ao Napne por docentes, equipe pedagógica, equipe multidisciplinar ou outros servidores/setores da instituição que acompanhem os estudantes” respondeu a Assessoria da Diretoria de Assuntos Estudantis, questionada pela equipe de jornalismo do Sinasefe.

Para a Diretora de Coordenação de Comunicaçãodo Sinasefe  Flávia Cândida do Nascimento Souza, ainda falta capacitação dos professores sobre como lidar com o aluno autista. “Depois do diagnóstico, você precisa ter estratégias específicas para cada aluno, para cada pessoa, porque como o autismo é um espectro, ele se manifesta de maneiras diferentes em cada pessoa e isso faz com que seja necessário adaptações praticamente individuais, então essa capacitação no caso do Ifes para saber como adaptar as necessidades de cada aluno é o mais importante que a gente precisa ter”, destacou. 

Neste domingo (2), em Vitória, aconteceu a caminhada do Dia Mundial da Conscientização sobre o autismo. O ato partiu de onde do Píer de Iemanjá até o Hotel Aruan, na Praia de Camburi. 

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