NOTA DE REPÚDIO | Sobre a tutela dos corpos femininos
Data: 24 de agosto de 2025
O Coletivo de Mulheres do Sinasefe – Seção Ifes manifesta seu mais veemente repúdio às práticas institucionais que, sob o pretexto de defesa da moral e da disciplina, continuam a tutelar e vigiar os corpos das mulheres, especialmente quando se trata de servidoras públicas federais.
É sintomático que a sociedade e, muitas vezes, as próprias instituições de ensino — sintam-se no direito de regular as escolhas e a vida privada das mulheres, enquanto permanecem historicamente permissivas diante de atitudes de homens que desrespeitam normas, violentam direitos ou reproduzem agressões contra companheiras, esposas e namoradas.
Em 2025, vieram a público denúncias e prisões em flagrante de servidores por violência doméstica no Espírito Santo, envolvendo trabalhadoras e trabalhadores do Ifes. Em casos assim, a gravidade é incontestável. No entanto, não se observa a mesma contundência, publicidade e enquadramentos morais que são mobilizados contra mulheres por condutas privadas sem lesão a terceiros. Essa assimetria é inaceitável.
Denunciamos a discrepância de tratamento: enquanto condutas pessoais de mulheres são transformadas em processos, por vezes rotuladas como “deslealdade institucional” ou “quebra de decoro”, casos de agressões contra companheiras, esposas e namoradas — com registro policial, prisão e medidas cautelares — raramente recebem o mesmo peso público e disciplinar.
Essa assimetria revela o que temos denunciado há anos: a lógica machista e misógina que atravessa o serviço público federal, no qual mulheres são julgadas de forma mais dura e exemplarizante, enquanto homens, mesmo diante de infrações graves, contam com o silêncio, a invisibilidade e, muitas vezes, a proteção corporativa.
Reafirmamos que não aceitaremos a perpetuação dessa desigualdade. Exigimos que os processos administrativos sejam pautados por critérios transparentes, justos e isonômicos, e que as instituições públicas tratem com a mesma seriedade tanto as violações cometidas por homens quanto as situações que envolvem mulheres servidoras.
Seguiremos denunciando qualquer tentativa de reforçar, pela via administrativa, o controle sobre os corpos e as escolhas das mulheres, pois entendemos que tais práticas não apenas reproduzem a desigualdade de gênero, mas também alimentam a cultura da violência contra as mulheres em nossa sociedade.
Lutamos por uma sociedade em que as mulheres permaneçam vivas, livres e jamais sejam silenciadas!
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