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Posicionamento da direção do Sinasefe Ifes sobre a temática “Violência nas Escolas”

Posicionamento da direção do Sinasefe Ifes sobre a temática “Violência nas Escolas”

Data: 4 de maio de 2023

Conforme deliberado em assembleia realizada em 26 de abril, o sindicato apresenta seu posicionamento à base

Em resposta ao contexto de medo que se instaurou no âmbito de nossas escolas, frente  à escalada de ataque às instituições educacionais, bem como, das ameaças dirigidas às escolas após o episódio ocorrido no município de Aracruz, o Sinasefe Ifes, em discussão com sua base na assembleia realizada no dia 26 de abril de 2023, apresenta o seguinte posicionamento a seus filiados e filiadas:

1. Somos uma escola, e o papel prioritário de uma escola é educar. Nesse sentido, entendemos que dentre as inúmeras ações que o Ifes deverá realizar frente a esse contexto, as ações de prevenção e mediação de conflitos são prioritárias,em detrimento de ações de gerenciamento de crise e coerção. Uma escola que pretende enfrentar o problema da violência estritamente ou priorizando a  administração de possíveis crises ou pela coação é uma escola fracassada quanto à sua missão institucional.

2. Não podemos negligenciar a gravidade dos fatos e o seu significado: nós somos o alvo! A escola, com todas as suas contradições, representa um espaço de transmissão de cultura e do legado humano de forma geral. É espaço de reafirmação de nossos marcos civilizatórios que, embora frágeis, são muito caros enquanto construção política ao longo de nossa história¹. O ataque a este espaço consiste num flerte com a barbárie e em uma disposição de indivíduos e de parte da sociedade em destruir esses marcos civilizatórios. Desta forma, um ataque às escolas é um ataque a toda nossa sociedade e a nossas formas de viver e existir. Não é por acaso que a reafirmação do direito ao respeito e acolhida à diversidade de gênero e étnico-o racial presentes nas escolas são motivos de protesto por aqueles que não aceitam essa mudança cultural que ora tenta se instituir como prática. O ataque às escolas passa a ser, portanto, um ataque às instituições capazes de contribuir no avanço deste processo como parte de um desejo de destruir, desestabilizar e silenciá-las.    

Vale ressaltar que, nós trabalhadoras e trabalhadores da educação também precisamos de atenção e cuidado. Nos últimos anos foi construída uma narrativa contra os serviços públicos, colocando os servidores da educação como parasitas, doutrinadores e como aqueles que não contribuem para o desenvolvimento do país. Com isso, nós trabalhadores nos tornamos alvos dos discursos de ódio. Notamos que as proposições das gestões para solucionar as violências nas escolas, em geral, perpassam pela sobrecarga de trabalho e individualização das questões. Dessa forma, é necessário pensar em construções de soluções coletivas e que tenham como foco a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, sendo preciso repensar os processos/condições de trabalho bem como a constituição e tamanho das equipes.

3. O episódio da violência não é um ato isolado, muitos ajudaram e seguem ajudando a apertar esse gatilho. Tratar o problema da violência a partir de episódios, isolando tais fatos como se os mesmos não fossem derivados de múltiplos fatores, e ainda, ignorando o fato de que parte desses fatores se originam ou ganham terreno fértil na própria cultura escolar é um erro. A relação entre escola e violência remonta a própria história da educação no Brasil e no mundo. Isso porque, embora a instituição escolar tenha uma dinâmica própria de funcionamento, não está livre dos tensionamentos e contradições presentes na sociedade e, consequentemente, da reprodução de preconceitos, diferenças sociais e injustiças presentes nessa mesma sociedade. Abordar o tema violência na escola,  deve ter como premissa a necessidade de um espaço no qual possamos falar sobre nossas feridas, das opressões que passamos e de como podemos mudar isso. No espaço escolar existem também práticas de: machismo, racismo, intolerância religiosa, controle dos corpos, homogeneização/uniformização dos sujeitos, capacitismo,  etarismo, o que mostra como uma escola pode ser, de múltiplas formas, violenta. 

4. Servidor e servidora progressista luta por uma escola mais democrática e acolhedora. Não existe uma saída simples, o enfrentamento a esta crise humanitária passa, necessariamente, pelo envolvimento de toda comunidade escolar e instituições externas ao Ifes. Policiamento na porta da escola não pode ser nossa única resposta ao problema da violência. Precisamos construir   coletivamente documentos, protocolos e fluxos para as situações de violência, que precisam envolver, de maneira efetiva, os trabalhadores e trabalhadoras dos campi e a rede intersetorial.

5. O enfrentamento a esse desafio passa necessariamente por todos nós. A busca de respostas e ações dentro do Ifes têm dificuldade de serem debatidas de forma horizontalizada. O Ifes precisa se debruçar em metodologias que permitam à instituição saber escutar discentes, familiares, responsáveis e servidores. Precisa saber sistematizar essas escutas e reorientar suas políticas através delas. Não existe solução mágica nem mesmo única. O Ifes precisa fortalecer suas redes de acolhimento e proteção dos seus discentes e trabalhadoras/es. Isso envolve, prioritariamente, garantir serviços e servidores que atuam nas áreas de suporte aos alunos em número e condições de trabalho. Somado a isso, precisamos em caráter colaborativo trabalhar no envolvimento de toda a comunidade, incluindo estudantes, familiares e/ou responsáveis, profissionais da educação, gestores , conselho tutelar, profissionais de saúde mental, proteção e assistência social, policiais da ronda escolar, pessoal de resposta a emergências, profissionais de segurança, entre outros. Essa é uma luta que precisa ser iniciada no chão da escola, nas salas de aula e na construção de espaços específicos para isso. 

Direção Sinasefe Ifes

 

¹Esse excerto tomou como base a contribuição do texto  Serviço de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da USP Adriana Marcondes Machado e Paula Fontana Fonseca.

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