Dia Internacional da Mulher: a importância do debate sobre o machismo dentro do Ifes
Data: 7 de março de 2019
Quatro mulheres – uma professora, uma técnica-administrativa, uma aluna e uma aposentada – falam sobre suas experiências e de como veem a questão dentro do Instituto
As piadas fazendo referência à sexualidade das mulheres são comuns, mesmo na frente delas. Nas indicações para cargos de chefia, com ganhos salariais, ser homem pode fazer toda a diferença. Nas reuniões é comum que as vozes femininas sejam escutadas, mas desconsideradas. Para se impor, mulheres acabam por assumir comportamento tido como “masculino”. Há relatos de assédios de servidores que tentam contato físico sem consentimento com mulheres colegas de trabalho. Essas são algumas das situações narradas na matéria que o Sinasefe Seção Ifes preparou para trazer para a pauta o machismo dentro do Instituto.
Uma professora relatou à reportagem que no Ifes o machismo se revela, em geral, de forma sutil. Ela chama a atenção para o fato de mulheres serem minoria no corpo docente. “É comum não sermos levadas a sério e nossas considerações serem desconsideradas em certos grupos”. Ela explica que as indicações quase sempre são feitas por homens que escolhem outros homens para integrar as comissões, por exemplo. O mesmo ocorre nas indicações para cargos de chefias que contam com ganho salarial.
É comum mulheres não serem de fato ouvidas em reuniões que tratam de pesquisas e suas falas tendem a não receber atenção, como se elas não fizessem pesquisa. “É muito comum que professores reproduzam discurso machista em sala de aula, dizendo para as alunas, por exemplo, que Mecânica é curso de homem, porque precisa de força, reforçando a ideia machista de que existem cursos para homens e outros para mulheres. As engenharias são masculinas e as licenciaturas femininas. Eles defendem isso”, explicou a professora.
Perpetuação
A conversa com a docente reforça a percepção de que ocorre uma perpetuação de uma situação que não é nova. É uma servidora aposentada quem confirma. “A primeira coisa que observei quando entrei no Ifes foi que homens ocupavam os cargos mais valorizados. Não levou muito tempo para eu perceber que nas relações era o pensamento masculino que valia. A gente, como instituição, não está apartado do que ocorre na sociedade. Somos um recorte da sociedade que é evidentemente machista”, explicou.
Ela conta que é preciso adotar uma postura considerada “masculina”, às vezes instintivamente, para se posicionar enquanto profissional. “Meu esforço foi muito maior do que qualquer homem teria que fazer se estivesse na minha posição”. Ela relata que há um sistema de camaradagem nas distribuições de posições e de cargos, uma espécie de blindagem no estilo “clube do bolinha”, em que a preferência sempre é dos homens.
“Precisamos de um homem para que sejamos ouvidas, como se precisássemos ser mulher de alguém. Ou a mulher precisa se “masculinizar” para ser aceita, tem que peitar, surpreender os homens. Eu adoeci, porque demonstrar sentimento é fragilidade. Dizem que você está menstruada, que tá precisando de um homem. Diminuem e subestimam a capacidade e a condição feminina”, relatou.
A aposentada acrescentou que há uma atribuição cultural que se dá ao feminino no que diz respeito a sentir e demonstrar emoções e que as pessoas são ensinadas a serem machistas e a mulher é educada para achar isso normal, para até se sentir elogiada diante de um assédio. Dessa forma, a condição feminina é considerada menor. “Às vezes, temos que nos violentar enquanto mulheres para obtermos respeito”, explicou.
“Ser diverso é o que é natural e é bom. Somar as características é o nosso futuro. Ainda que lentamente, isso não tem volta. Mulheres e homens precisam se debruçar sobre o tema, debater e não temer para apostar nessa relação de parceria. Eu acho que é obrigação do Ifes promover isso. Desenvolvimento pessoal e humano são bandeiras que o instituto diz defender. Como fazer isso sem promover esse debate dentro do Instituto?”, questiona a aposentada.
Assédio
Piadas sexistas e machistas, em conversas triviais, na copa, no corredor, são comuns no Ifes, de acordo com uma servidora técnica-administrativa do Instituto. “Já vivenciei e já vi ocorrer com outras servidoras. São piadas relacionadas à sexualidade das colegas que eles falam pra todo mundo ouvir, mesmo com mulheres presentes. Há relatos, inclusive, de assédio físico com colegas”, revelou, explicando que não há denúncias porque é muito difícil provar, já que acontece quando as pessoas estão sozinhas, e pelo medo de prejuízo à carreira.
Uma aluna ouvida pela reportagem contou que já ouviu relatos de colegas que sofreram assédio e atitudes ofensivas com palavras desrespeitosas e preconceituosas por parte de colegas homens, e até mesmo de professores, o que, segundo ela, vai contra os valores do Ifes e pode causar um dano muito grande na pessoa que é agredida.
Debate
A aluna pondera, entretanto, que o campus onde ela estuda apoia e tem estrutura para acolher casos de machismo e assédio relacionados aos alunos, com bom diálogo sobre a questão no que diz respeito ao machismo, o que vai ao encontro do que as servidoras relataram: a questão do machismo é mais debatida com as/os estudantes, enquanto o diálogo sobre a questão nas relações institucionais e profissionais entre as/os servidores avança muito pouco. A aluna concorda que é preciso ampliar o debate no Instituto sobre o machismo.
A servidora técnica-administrativa que foi fonte desta reportagem acrescentou que o equívoco do Instituto está em tratar apenas do desenvolvimento institucional, abandonando a relação entre as/os servidores. Ela aponta que há uma assessoria que trata da saúde do/a servidor/a, mas que isso é pouco. “É preciso promover o diálogo sobre as relações interpessoais. Há preconceito contra as mulheres, preconceito velado contra homossexuais e tudo isso deveria ser discutido. Trazemos isso para o debate com os alunos, mas esquecemos que o mesmo debate precisa ser feito sobre as nossas relações enquanto profissionais e pessoas”.
Ato
Participe do ato “8M 2019, Vitória – ES”, que será realizado no Centro de Vitória, na sexta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher. A concentração será às 15 horas, em frente à Defensoria Pública, na avenida Jerônimo Monteiro. Clique aqui e saiba mais.