Nota de Repúdio à série de reportagens “Caixa Preta dos Sindicatos”, de A Gazeta (Vitória-ES)
Data: 4 de maio de 2016
Desqualificar quem luta para desqualificar a luta. É isso que pretende A Gazeta
O Sinasefe Seção Ifes recebeu com preocupação e repudia a série de matérias do jornal A Gazeta sobre o que eles chamam de “Caixa Preta dos Sindicatos”. Causa estranheza as reportagens terem sido iniciadas justamente no Dia do Trabalhador (1 de maio) enquanto diversas categorias se manifestavam nas ruas, lutavam pela manutenção de direitos e contra os retrocessos que o cenário brasileiro apresenta para um futuro breve. Resolveram atacar a legítima e constitucional representação das trabalhadoras e dos trabalhadores, que é a entidade sindical, no dia que é um símbolo para ela e para seus representados.
Denunciar as distorções do movimento sindical, incluindo os patronais, é salutar e constitui material jornalístico de interesse público. Reconhecemos que há problemas que vão desde perpetuação no poder até sindicatos cartoriais que não são de luta e abdicam de sua missão de travar a batalha em benefício das categorias que representam.
Entretanto, as matérias publicadas, e, em especial, as manchetes, títulos e frases em destaque – elementos que ficam na memória e que muitas vezes são a única parte observada pelo leitor – não tiveram o cuidado necessário para separar o movimento sindical combatente, organizado e responsável no trato dos recursos financeiros, do sindicalismo da “caixa-preta”.
As matérias ganharam farto, raro e surpreendente espaço no jornal, com vários dias de reportagens, sempre acompanhadas de uma diagramação obscura que evoca uma negatividade subjetiva no leitor que, desconfiado, relaciona os sindicatos a um movimento de subtração de seu dinheiro de maneira desonesta ao mesmo tempo em que nada faz por ele.
O atual momento que vivemos no Brasil é de ataques aos direitos sociais, entre eles os trabalhistas, que vêm da Câmara dos Deputados e ganham força com o programa “Ponte para o Futuro” do possível governo Temer/PMDB/PSDB que se desenha. Nesse ambiente, torna-se fácil fazer a leitura do que pretende o jornal A Gazeta com esse material jornalístico meticulosamente editado e divulgado em altas doses, e continuamente, na esteira do avanço do pensamento conservador na sociedade e dos interesses que os parlamentares defendem em Brasília.
Do alto de sua condição patronal e conservadora no campo econômico, A Gazeta decidiu colocar todos em um mesmo saco, desqualificando o movimento sindical, sua luta histórica pelos direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores, elo mais fraco do tecido social e oprimido pelo sistema e por seus patrões, normalizando a ideia entre a sociedade de que a defesa dos direitos duramente conquistados está relacionada a pessoas desonestas, sem escrúpulos, que não apresentam resultados.
É bom ressaltar que o Sinasefe Seção Ifes e todas as seções do Sinasefe no Brasil, além de todos os sindicatos filiados ao CSP Conlutas, não recebem recursos do imposto sindical, abrindo mão dos valores, tendo suas atividades custeadas apenas pelas mensalidades dos filiados voluntariamente. Diversos sindicatos e centrais sindicais defendem o fim do imposto sindical. Vale ressaltar que os sindicatos patronais, que representam empresas e patrões, recebem recursos de impostos.
Além disso, o Sinasefe Seção Ifes, assim como outras entidades sindicais, possui cláusulas em seu estatuto impedindo que diretores sejam eleitos por mais de duas gestões seguidas, o que funciona como barreira para que se perpetuem no poder.
Desqualificar quem luta para desqualificar a luta. É isso que pretende A Gazeta. Por isso repudiamos o tratamento dado aos Sindicatos por meio das matérias e avisamos que ampliaremos ainda mais a militância abrindo os olhos da sociedade quanto aos riscos que ela corre podendo perder direitos históricos em nome dos interesses de quem historicamente se beneficiou da exploração do trabalho e que agora tenta, por meio de uma construção discursiva, convencer o oprimido a defender o seu opressor.
Sinasefe Seção Ifes