2º ENNIQ – Resumo do 1º dia
Data: 22 de março de 2023
A programação do 2º Encontro de Negras, Negros, Indígenas e Quilombolas começou nesta quarta, 22
O 2º Encontro de Negras, Negros, Indígenas e Quilombolas (ENNIQ) começou nesta quarta-feira (22/03).
Com atividades previstas até o próximo domingo (26/03), no Hotel Maceió Atlantic Suites, em Maceió-AL, o evento tem como tema “Malungas, Malungos e Parentes na terra de Palmares! Nossa luta, nosso sindicato!”.
Neste primeiro dia (22/03), tivemos o credenciamento do 2º ENNIQ e a abertura do Sinasefinho, com a entrega dos kits aos participantes e às crianças que vieram aos mesmos; tivemos a realização de sete das oito oficinas previstas para o evento; e tivemos, encerrando o dia, apresentações culturais tradicionais indígenas e quilombolas e a Conferência de Abertura do Encontro.
Oficinas
As oficinas foram as primeiras atividades coletivas do 2º ENNIQ a reunir as/os sindicalizadas/os presentes no Encontro. As/Os participantes se dividiram em sete espaços e tiveram contatos e aprendizados com diferentes temas.
Pela manhã, com início às 10 horas, ocorreram as oficinas “Palavra cantada, herança da diáspora africana no Brasil. Qual o teu nome?”, ministrada por Celiana Maria dos Santos (professora aposentada da Rede Estadual de Educação da Bahia); e “Introdução às línguas indígenas brasileiras – um panorama sobre a diversidade linguística no Brasil e sua contribuição na formação do português brasileiro”, ministrada por Lucas Barbosa (professor do IFB).
Já pela tarde, com início às 14 horas, tivemos outras quatro oficinas: “Precisamos falar sobre masculinidade tóxica!”, que foi voltada apenas para o público masculino, ministrada por Givanildo Manoel (educador indígena); “Cinema indígena em Alagoas: resistência contra colonial”, ministrada por Marcelo Tingui Botó (cineasta indígena); “Confecção de turbantes”, ministrada por Ìyá Marli Ògún Méjire Azevedo (militante do Movimento Negro Unificado); e “Pinturas corporais/grafismos indígenas”, ministrada por Huetçãwan Tavares da Silva (indígena Xucuru-kariri, da aldeia Mata da Cafurna).
E com início às 16 horas, tivemos mais uma oficina: a de “Yoga”, ministrada por Carleane Correia (instrutora de yoga e massoterapeuta).
Por um problema com atraso da companhia aérea, houve o cancelamento da oficina “A experiência de formação continuada de professores por meio dos cursos de extensão de cultura tradicional africana”, que seria ministrada pelo professor do Colégio Pedro II Arthur Baptista.
Apresentações culturais
Durante toda a tarde, um trio nordestino de forrozeiros animou o ambiente do evento, tocando clássicos do mais tradicional forró pé de serra.
E pela noite, antes da Conferência de Abertura, aconteceram mais duas apresentações culturais lindíssimas.
A primeira foi o Toré dos indígenas da etnia Xucuru-kariri da aldeia Mata da Cafurna, que fica na cidade de Palmeira dos Índios-AL. Após cantar; dançar; se apresentar e falar das dificuldades que os povos indígenas vivem e como resistem com uma luta muito dura em Alagoas; os indígenas ainda chamaram todos os presentes para dançar junto a eles, inundando o ambiente de ritmo e alegria.
A segunda foi a dança afro tradicional do grupo de afoxé Ofa Omim, que fez o auditório lotado se animar e acompanhar as letras do afoxé e do samba com palmas e cantando junto. Além da dança, a luta e a resistência dos povos quilombolas foi demonstrada pela apresentação.
Essas apresentações culturais marcaram o início do 2º ENNIQ como um evento histórico e místico, mostrando todo o potencial do Encontro como formativo, sindical e étnico-racial.
Mesa de Abertura
Pela noite, veio a primeira atividade no plenário do 2º ENNIQ que reuniu todos os participantes do Encontro: a Conferência de Abertura do evento.
Com início às 19 horas, a mesa teve como tema “Enquanto houver racismo, não há democracia: a luta por direitos de Negres, Indígenas e quilombolas no Brasil”.
Dois representantes do SINASEFE e uma do Sintietfal, seção sindical anfitriã do Encontro, fizeram a mediação e abertura da mesa: Elaine Lima (professora de Filosofia do IFAL; pesquisadora na área de marxismo, feminismo e questão racial; Vice-presidenta do Sintietfal); Camila Félix (Secretária da Coordenação de Combate às Opressões do SINASEFE; Coordenadora de Secretaria do Sinasefe IFBA; professora de Petróleo e Gás Natural no campus Simões Filho do IFBA; e bisneta de Dona Camila da Conceição), e Stânio Vieira (Coordenador Estadual do Movimento Negro Unificado (MNU); Coordenador Geral do Sinasefe IFTO; Secretário-adjunto da Coordenação de Combate às Opressões do SINASEFE; e professor do campus Dianópolis do IFTO).
Elaine, Camila e Stânio, respectivamente, fizeram falas de saudação em reforço à importância da luta de negras, negros, indígenas e quilombolas, ressaltando a importância do protagonismo do 2º ENNIQ para a formulação das políticas do SINASEFE. Além deles, a coordenação geral do sindicato, representada presencialmente por Elenira Vilela e virtualmente (em vídeos previamente gravados) por Artemis Martins e David Lobão, também apresentou suas saudações aos presentes no Encontro.
Às 21 horas, após as saudações e apresentações culturais, a Conferência de Abertura, de fato, teve início.
Os quatro palestrantes da mesa foram: Nêgo Bispo (formou-se pelos ensinamentos das Mestras e dos Mestres de Ofício do Quilombo Saco-Curtume, em São João do Piauí-PI; autor de artigos, poemas e livros), Thiniá Shakti (ativista e Coordenadora do Movimento Indígena – Povo Fulni-ô; educadora popular com ênfase na formação indígena; e representante das Comunidades Indígenas Alagoanas e da Associação Karuazú Inhapi-AL), Ieda Leal (Coordenadora Nacional do Movimento Negro Unificado (MNU); Secretária de Combate ao Racismo da CNTE; e Coordenadora Nacional do Centro de Referência Negra Lélia Gonzalez) e Leonardo Péricles (Presidente Nacional da Unidade Popular; candidato à Presidência da República nas eleições de 2022; morador de periferia e da Ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte-MG; e integrante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas).
Nêgo Bispo falou da resistência do povo quilombola. “Queimaram Palmares, nasceu Canudos. Queimaram Canudos, nasceu Caldeirão. Queimaram Caldeirão, nasceu Colhe de Pau. Queimaram Colher de Pau e vão continuar nascendo quantos outros forem necessários”, exemplificou. Ele deixou seu ponto de vista, afirmando que o colonialismo é a origem de todos os males e que sua base teórica é a Bíblia: “o apocalipse é o fim das teorias e a reedição das trajetórias”. Na visão dele, o movimento quilombola não quer governar os colonizadores, mas também não aceita ser governado por ninguém.
Thiniá Shakti disse que o Brasil é formado de um único povo mestiço, com orgulho, e que os povos indígenas não devem, por isso, ser vistos como uma “minoria”. Para ela, que tem formação como bióloga, o planeta não pode ficar à mercê das violências que sofre, fazendo um clamor por desenvolvimento sustentável: “nossa Grande Mãe precisa de ajuda; todos precisamos de água, de terra e de acesso aos recursos, por isso todos somos responsáveis por essa mudança”.
Para Ieda Leal, “se poder é bom, negras e negros também querem o poder”. Ela afirmou que essa tarefa não é fácil, porém é possível e, para isso, o movimento de negras e negros precisa se organizar. “E que organização? A nossa!”, sugeriu. A tarefa, segundo Ieda, é eleger mais negras e negros para ocupar os espaços de decisão no Brasil, pois esses espaços têm funcionado para aumentar a opressão racial. “É uma hipocrisia nos servimos das mesmas coisas que nos matam”, disse. Em sua palestra, ela lembrou de alguns exemplos de violência racista no país, como a tentativa de cassação do mandato de Renato Freitas (PT) em Santa Catarina e a escravização por 38 anos de Madalena Gordiano, resgata em novembro de 2020 em Patos de Minas-MG, aos 46 anos.
Na opinião de Leonardo Péricles, o capitalismo se utiliza do racismo como instrumento de dominação ideológica, assim como se utilizou do colonialismo e do neocolonialismo. “O projeto de dominação do Brasil nos relegou a meros exportadores de commodities e matérias-primas”, falou. Para Péricles, o capitalismo é o responsável pela crise atual e precisamos criar condições para derrubá-lo. Ele dissertou que a luta de classes mais longa no Brasil foi a luta entre escravizados e senhores de escravos, que durou 388 anos e moldou o país que temos hoje. “Eu não acho que temos que lutar para chegar ao topo, temos que lutar para implodir o topo e acabar com esse modelo”, finalizou.
Fonte: SINASEFE.