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Fala, Base | O RETRABALHO – produção e improdução na educação do Ifes

Fala, Base | O RETRABALHO – produção e improdução na educação do Ifes

Data: 28 de julho de 2020

Em novo material do “Fala, Base!”, professor do Ifes de Vitória analisa a implementação do ensino remoto no Instituto

Profº. Reginaldo Flexa Nunes, Ifes-Vitória, 26 de julho de 2020

A pandemia tornou emergente o ensino remoto (EaD, APNPs, teletrabalho, home office, ensino hibrido), pois tudo pode transforma-se em uberização do trabalho dos profissionais da educação.

Acontece que a estrutura online não está disponível para todos; seja na qualidade de transmissão, armazenamento de dados; seja na qualificação dos docentes e discentes. Assim, como realizar atividades pedagógicas se o distanciamento social impôs limites?

O enfrentamento dos limites tem sido a através das Atividades Pedagógicas Não Presenciais (APNPs). A exclusão tem sido a marca dessa ação de ensino remoto. As pesquisas demonstram que os alunos não têm acompanhado o ritmo alucinante dos conteúdos e atividades propostas, levando ao trancamento de matrículas o que resultará em reprovação, evasão e judicialização.

A preocupação dos gestores tem sido o trabalho docente a qualquer custo (adoecimento, estresse, assédio moral), fazendo da improdutividade do ensino a mola propulsora de “mostrar trabalho” para a sociedade. A improdutividade pedagógica deve-se ao fato da oferta de ensino desconsiderar a totalidade dos estudantes, pois muitos estão excluídos de conhecimentos e tecnologias do ensino remoto.

As atuais ferramentas tecnológicas (algoritmos), controladas por grandes corporações (Google, Amazon, Facebook), transformam os profissionais em mediadores de modelos pré-estabelecidas. O trabalho remoto tem cumprindo os objetivos de reduzir custos, invisibilizar e individualizar o trabalho. Além de possibilitar a retirada de direitos, promover a perda de organização sindical e possibilitar a duplicação do trabalho.

O ensino remoto, nos termos atuais, são uma ameaça ao trabalho docente. Houve demissão em massa nas empresas de educação. Onde também avançam os cursos online: menos professores, mais alunos, mais lucros para os empresários, mais desemprego e precarização das condições de trabalho.

A escola é muito mais do que notas, presença, conteúdo, avaliação. A escola é espaço de encontro, debate, lazer, cultura e conhecimento.
Por isso, precisamos superar a visão da escola tradicional (conteudista), pois estamos diante de um novo paradigma educacional que obriga a repensar o fazer pedagógico. O diálogo horizontal deve ser o centro de nossas preocupações. A valorização da organização coletiva é um caminho promissor nesta nova conjuntura. Por outro lado, o compromisso ético-profissional do professor deverá ser exigido. A interdisciplinaridade deve ser focada nas estratégias de sobrevivências dos estudantes.

O grande desafio neste momento de pandemia é dar visibilidade as táticas de sobrevivência. Pois aí pode estar um elemento fundante da consciência de classe, através de um variado repertório de táticas para o enfrentamento da insegurança generalizada provocada pela pandemia (Covid-19).

Assim, não precisamos de retrabalho quando se inverte a lógica: aprender na vida e ao longo da vida. O foco nas táticas de sobrevivência pode nos orientar e estimular a participação dos alunos nas atividades que estamos propondo.

Nestes termos, o retrabalho fica parecendo “trabalho forçado”, no sentido em que foi condenado Oscar Wilde, em 1895:

“Imagine uma imensa roda da qual existem degraus circulares. Oscar Wilde, colocado sobre um dos degraus, faz mover a roda com a ajuda dos pés. Os degraus se sucedem sob seus passos a um ritmo rápido e regular. Suas pernas são submetidas a um movimento precipitado que produz uma fadiga enervante e assustadora ao cabo de alguns minutos. Mas ele tem que dominar a fadiga, o enervamento e o sofrimento, pois precisa continuar a movimentar as pernas sob pena de cair e ser projetado pela ação da roda” (SCHIFFER, 2010, p. 232).

Referência
SCHIFFER, Daniel Salvatore. Oscar Wilde, Porto Alegre, RS: L&PM, 2010.
SOLANO, Esther; ROCHA, Camila (org.). As direitas nas redes e nas ruas: a crise política no Brasil, 1ª edição, São Paulo: expressão popular, 2019.
Live com Ricardo Antunes | Trabalho remoto e a precarização do ensino. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=Hoc-XwKQ7kg&t=1516s > visitado em 26 julho 2020.

*Este texto faz parte do projeto “Fala, Base!” e não reflete, necessariamente, a opinião do Sinasefe Ifes. O material é de inteira responsabilidade do autor.

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