Notícias

Nota de Repúdio ao estupro coletivo de uma adolescente no Rio de Janeiro

Nota de Repúdio ao estupro coletivo de uma adolescente no Rio de Janeiro

Data: 2 de junho de 2016

nota-de-repudio

Precisamos falar sobre a cultura do estupro no Brasil

O Sinasefe Seção Ifes repudia radicalmente o estupro coletivo sofrido por uma adolescente no Rio de Janeiro. Ela foi vítima de mais de 30 homens que a violentaram com requintes de crueldade, filmaram o crime e divulgaram nas redes sociais. Toda a barbárie, incluindo a repercussão da exposição da vítima na internet, escancarou a cultura do estupro naturalizada na sociedade brasileira. O crime ocorreu no dia 21 de maio e o vídeo se tornou viral no dia 25.

Logo emergiu um turbilhão de compartilhamentos das imagens degradantes somado a comentários que culpabilizam a vítima e colocam em dúvida se houve crime. O discurso misógino e machista revelou verdades sobre a nossa sociedade que deixam a certeza de que evoluímos muito pouco no campo da emancipação da mulher.

A culpa nunca é da vítima! Repetiremos isso à exaustão. Não é o short que estupra. Não é a blusa que estupra. Não é a bebida que estupra. Não é a rua com pouca iluminação que estupra. Não é o horário que estupra. Quem estupra é o estuprador. A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil.

É preciso ter em mente que cada comentário, piada machista ou tese misógina, propaganda ou música que objetificam as mulheres, além da omissão na desconstrução dessa cultura contribuíram para o estupro dessa menina. O riso conivente, mesmo que contido, diante da anedota machista do grupo de whatsapp, ou do post do amigo no Facebook, normaliza esse tipo de comportamento no dia-a-dia e contribui para os inúmeros estupros diários que ocorrem no Brasil.

Àqueles que tentam a todo momento criar malabarismos discursivos para desmentir a vítima, um aviso: isso revela que você considera justificável estuprar uma mulher dependendo da circunstância.

Há, ainda, os que se esforçam para separar os bons homens dos maus, vitimizando o sexo masculino e retirando o protagonismo das mulheres até no momento da violência. Esses homens, se verdadeiros aliados, poderiam dispensar o mesmo esforço para desconstruir o machismo predominante no Brasil. Isso inclui repreender os amigos que continuam a disseminar o discurso machista.

Como profissionais da educação que somos, servidoras e servidores do Ifes, precisamos refletir sobre nossa responsabilidade na perpetuação dessa cultura que tenta enquadrar as meninas, ao invés de empoderá-las, fazendo com que os meninos creiam que tudo podem. Optamos por ensinar às meninas como devem se “comportar” para não serem estupradas, quando deveríamos ensinar os meninos a não serem estupradores.

A resposta estatal, como quase sempre, surge equivocada, fazendo crer que a repressão e a punição serão a solução. Elas precisam ser aplicadas, com rigor, em todos os casos, mas por si só não resolvem. Não queremos apenas punição para estupradores. Queremos que as mulheres não sejam estupradas. Para isso é necessário o contrário do que vem sendo feito. Um congresso ultraconservador e um executivo federal machista só fazem perpetuar a tragédia diária das mulheres brasileiras. Eles barram todas as tentativas de avanço e tentam retroceder nas políticas estatais civilizatórias que historicamente vêm sendo promovidas, articulando para impedir que os currículos escolares tratem da questão de gênero e para calar professores nas salas de aula.

O mesmo congresso conservador que encena indignação diante da tragédia, pauta projetos de lei, como o 5069/13, aprovado em 2015 na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, dificultando o aborto legal e o atendimento hospitalar às vítimas de estupro.

Mas a revolta, a indignação e as ações de militância em defesa dos direitos das mulheres, intensificadas após o horror ocorrido no Rio de Janeiro, mostram que há espaço para a luta e mobilização em prol da construção de outra narrativa que permita às mulheres serem donas de seus próprios corpos e destinos, sem a tutela de homens e o temor de sofrerem toda sorte de violência a cada esquina das ruas brasileiras ou nos cômodos de suas casas.

Sinasefe Seção Ifes

Pular para o conteúdo